Trabalho pioneiro em Londrina surgiu com o objetivo de integrar e oferecer mais opções aos idosos

O cineasta Akira Kurosawa já dizia por meio de seus personagens que a ânsia de viver é uma virtude e que é obrigação do homem desfrutar a vida. É isso o que fazem os idosos que participam de um grupo de convivência que existe há 20 anos, pioneiro nesse formato em Londrina. Na época de sua criação, em 28 de dezembro de 1998, cerca de 300 pessoas com mais de 65 anos da comunidade nipo-brasileira se reuniram na antiga sede social da Acel (Associação Cultural e Esportiva de Londrina), localizada na rua Paulo Kawasaki (zona oeste).

O trio que conduziu as primeiras atividades do grupo foi composto pela professora Luzia Yamashita Deliberador, Yasuo Hirama e pelo médico Luiz Carlos Miguita. Deliberador relembra que o grupo surgiu com o objetivo de integrar e oferecer mais opções aos idosos. “Tudo começou quando vi mais de 300 idosos reunidos na celebração dos 80 anos da imigração japonesa ao Brasil, em junho de 1988, em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina). Eu questionei de onde saíram tantos idosos e o que eles faziam o ano inteiro”, destacou. A partir dessa inquietação ela chegou à conclusão que a sua geração precisava fazer uma coisa por eles. “A cultura do idoso no Brasil é uma coisa que me assustava muito. Eu me perguntava ‘qual estrutura o País oferecia para os idosos?’ ”

Foi assim que os três resolveram iniciar um grupo aberto para qualquer pessoa com mais de 65 anos. “Começamos com japoneses e seus descendentes, porque os japoneses cuidam dos idosos e existe aquele respeito por eles”, destacou Deliberador. A convocação foi realizada por meio de líderes da comunidade japonesa em cada região do município, conhecidos como “kumitchôs”. “Quando morre algum imigrante antigo, em meia hora toda a comunidade está sabendo, porque os kumitchôs avisam cinco pessoas e cada uma delas avisa outros cinco. Na época nós avisamos os kumitchôs falando o porquê de criar esse grupo de idosos e na primeira reunião apareceram 350 idosos”, relembrou.

“Deu certo. Os 23 voluntários são filhos de imigrantes que viram os pais passarem dificuldade, então eles dão muito valor a esse trabalho. É um comprometimento com a cultura do idoso no Brasil. Fazemos um trabalho educativo e preventivo de educação cidadã. A gente nunca leva médico para fazer o curativo. Levamos para dar palestras preventivas. Se está chegando o frio, levamos alguém para falar sobre como se prevenir desse frio para não pegar gripe, que pode virar pneumonia. Nós nunca levamos vacinação lá, mas orientamos sobre a importância de se vacinar. O que queremos é que eles encontrem amigos, ouçam uma boa palestra e façam alongamento, tenham atividade de entretenimento, de lazer e de cultura”, destacou Deliberadora.

Ela se orgulha do fato de a secretaria municipal do Idoso ter surgido dessa iniciativa. “O médico do grupo, Luiz Carlos Miguita, se tornou o primeiro secretário municipal do Idoso, ou seja, esse grupo acabou influenciando o município inteiro. Hoje mesmo existem dezenas de grupos. Toda Expo Japão chamamos todos os grupos de idosos de Londrina para uma tarde festiva para eles verem que estamos com esse grupo há 20 anos e que isso sirva de incentivo para que os demais grupos continuem por muitos anos”, apontou.

CÔNSUL
A cerimônia de comemoração dos 20 anos do grupo, realizada em no início de dezembro, contou com a presença do cônsul-geral do Japão no Paraná, Hajime Kimura. “Quem construiu a comunidade japonesa aqui são esses idosos, os isseis e nisseis. Quando vieram para cá, tudo ainda era mato. Eles fizeram as plantações e isso resultou em muita riqueza para esta região. Nós devemos muito a eles e temos que agradecer esses pioneiros”, discursou, durante o evento.

Para o presidente da Acel, Pedro Sato, esse grupo é muito importante para toda a comunidade, não só para a Acel. “A gente deve tudo aos nossos antepassados, aos nossos avôs e avós. Para a Acel é o departamento que mais faz sentido hoje. Pelo que a gente sabe de história, foram eles que fundaram a Acel, que tem 63 anos”, destacou.

Atualmente, o grupo conta com 130 integrantes dos 350 iniciais, muitos deles na faixa dos 80 anos. “Quem tem 65 anos hoje não entra nesses grupos, porque está cuidando de netos, ou ainda está trabalhando. Um erro nosso é não ter gente da geração que hoje está com 30 ou 40 anos (como voluntários). Está na hora das gerações mais novas assumirem esse papel”, cobrou a professora.

Nesses 20 anos a principal característica tem sido a amizade entre os integrantes. “Os japoneses usam muito o termo ‘tanoshimi’, que é aquela coisa de ter alguma coisa divertida durante os encontros. A reunião começa 13h30, mas às 11h30 já tem gente. São pessoas que fazem o lanche e batem papo enquanto esperam a reunião. Esse prazer não tem dinheiro que pague”, enalteceu.

Vítor Ogawa
Reportagem Local

Fonte: Folha de Londrina (20/12/2018)

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