Visita real ao Paraná celebra 120 anos de diplomacia entre Brasil e Japão

Sentado sob uma das tendas montada na Associação Cultural e Esportiva de Londrina (ACEL), o senhor Paulo Joo era uma das centenas de pessoas que aguardavam pacientemente e debaixo de chuva a chegada do príncipe japonês Akishino – filho mais novo do imperador Akihito – e sua esposa, a princesa Kiko.

Nos olhos, a alegria de quem está podendo viver esse momento especial pela segunda vez. “Meus pais eram japoneses, e nunca tiveram em vida a oportunidade de ver o imperador ou os filhos dele. Em 1980, eu tive essa chance, e agora estou tendo de novo. É uma honra, uma expectativa muito grande”, disse.

O respeito à família real, principalmente por parte dos mais velhos, é apenas um dos traços da riquíssima cultura japonesa. Os membros da linhagem dos imperadores não são mais considerados divindades – o costume prevaleceu desde o primeiro soberano, Jimmu, em 500 a.C., até o imperador Hiroito em 1946, quando ele, derrotado na Segunda Guerra Mundial, assumiu ser apenas um humano e não mais divino. Mesmo assim, respeito era a palavra de ordem na manhã deste sábado (31).

A visita propriamente dita foi bastante rápida, cerca de 15 minutos. Mas já era o suficiente para alegrar dona Keiko Kobayashi. Neta de descendentes, ela disse estar honrada por poder conhecer o segundo na linha de sucessão do imperador Akihito. “Meus avós, depois de virem ao Brasil, sempre quiseram retornar ao Japão. Não puderam, se foram antes de cumprir essa promessa. Meus pais também quiseram voltar, mas também não foi possível. E hoje, eu estou aqui com um pouco do Japão vindo até mim”, disse, emocionada.

Mais rígido do que os costumes e tradições nipônicos era o protocolo a ser seguido por aqueles que queriam acompanhar a visita real. Uma série de recomendações foi feita aos presentes: não se pode fazer perguntas diretamente ao príncipe ou à princesa, nem mesmo fotografar as Altezas Imperiais por trás e pelo alto. Não se pode gravar as conversas da família real; nem estender a mão, ou tocar o casal, a menos que a iniciativa parta deles. Também não é permitido passar ou caminhar à frente de Suas Altezas Imperiais. Neste último caso, a postura de alguns políticos locais poderia ter sido um pouco mais elegante.

Simpatia

Akishino – que na certidão de nascimento tem registrado o nome de Fumihito – e sua esposa chegaram sob chuva e foram, gentilmente, cumprimentando os presentes. Em uma breve caminhada, o casal chegou defronte à placa comemorativa da visita, prontamente descerrada pelo príncipe e por representantes da diretoria da ACEL. Em seguida, o casal apreciou uma apresentação de taikôs, tradicionais tambores japoneses, feita pelo grupo Ishindaiko. Bastante sorridente, a princesa Kiko se mostrou admirada com a força com que eram tocados os instrumentos.

Na sequência, príncipe e princesa seguiram cumprimentando os espectadores, tudo sob um fortíssimo esquema de segurança com direito a policiais militares e federais. Poucos minutos depois, o casal imperial já embarcava no carro oficial e seguia para os próximos compromissos. Tudo muito rápido, mas duradouro o suficiente para ficar gravado na memória de Cecília Tomoko Ito. “Morei 10 anos no Japão e só via a família real pela televisão. Olha só que coisa, estou aqui em Londrina, minha casa, e eles vieram até aqui. É uma chance única na vida, e vou me lembrar desse momento para sempre”, disse.

120 anos de diplomacia

Por Naiady Piva, da Gazeta do Povo

A visita marca os 120 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão. Além de Londrina, o casal visita outras três cidades paranaenses (Curitiba, Rolândia e Maringá), além de São Paulo e Brasília. O Brasil forma hoje a maior sociedade nikkei do mundo, fora do Japão. São cerca de 1,6 milhões de pessoas, entre imigrantes e descendentes, segundo informações da embaixada do Japão no Brasil. Desses, quase um décimo residem no Paraná. São 150 mil integrantes no estado, sendo cerca de 50 mil na região de Curitiba.

Este ano é especialmente importante para o Paraná, porque são três datas importantes. Além dos 120 anos, faz 100 que entrou o primeiro imigrante no Paraná, e são 45 anos da irmandade entre o Paraná e a província de Hyogo”, explica Fujio Takamura, diretor de intercâmbio da Câmara do Comércio e Indústria Brasil-Japão do Paraná (CCIBJ-PR).

A CCIBJ-PR é uma entidade que trabalha para trazer empresários e tecnologia japonesa para o Paraná. Hoje, são cerca de 20 empresas, das áreas automobilística, eletrônica, química, entre outras. Recentemente, a câmara firmou convênios com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) para firmar memorandos de entendimento com instituições japonesas de nível superior.

História

A data comemorada pela comunidade nipônica no Brasil marca o dia em que representantes dos dois países firmaram um “tratado de amizade, comércio e navegação” em Paris, na França. Foi em 5 de novembro de 1895. O tratado foi assinado com vistas a incentivar a vida dos asiáticos para o Brasil, que sofria escassez de mão de obra rural.

O fluxo migratório intensificou-se quase meio século depois, antes e depois da Segunda Guerra Mundial, na qual o Japão se envolveu como aliado da Alemanha e da Itália. Foi esse fluxo migratório que possibilitou ao país construir a maior sociedade nikkei do mundo.

No Paraná, os primeiros imigrantes se estabeleceram no Litoral do estado, em Paranaguá e Morrestes, e então em Curitiba. A ocupação no Norte do estado é posterior.

Antes disso, em 1803, quatro japoneses que estavam a caminho da Rússia fizeram escala em Florianópolis, então Desterro, em Santa Catarina. São considerados os primeiros japoneses a pisar em terra brasileira.

Fonte: Jornal de Londrina

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